Mais uma sexta- feira...
Mais uma sexta-feira, mais um plantão. Já tô feliz que não vou ficar aqui dentro o fim de semana inteiro de novo. Amo minha profissão, mas amo mais euzinha mesmo. Trabalhar com saúde pública neste país de misérias é dose pra leão; penso que eu devia me drogar, anestesiar mesmo, pra suportar a carga... depois eu vejo que a adrenalina do dia-a-dia vicia , e que a própria realidade entorpece.E luto, para me manter lúcida , sem embaçar a visão, nem atropelar os pensamentos. Para não atropelar o sentimento alheio, desse povo que vê no hospital a cara do governo: somos depositários de muitas frustrações, da falta de emprego, da moradia ruim, da crescente insegurança, da educação que não se explica. Na hora da dor estas pessoas se sentem realmente diminuídas, atravessada na garganta a indignação explode em acusações, às vezes violenta.Como se expusessem ali toda a esperança que já foi. Momento crítico.Doloroso.Dói tambem aqui dentro, que não posso fazer tudo que sei, nem dizer tudo que penso.Não me vejo no direito de lhes dizer nada alem do conforto, da explicação necessária.Ganho meu dia quando vejo uma família entendendo o processo de adoecer: talvez ali eu tenha feito diferença, talvez ali tenha mudado alguma realidade. Talvez, e muito talvez, tenha plantado uma semente de compreensão, de mudança de atitude. Aproveito sorrateiramente pra incutir algumas ideiazinhas sobre cidadania: a quem de fato reclamar, como, de que forma, com que palavras.Minha pequena revolução pessoal. Saio assim pelo menos com a sensação de que fiz o meu melhor. Por hoje basta.
1 Comments:
Eu admiro quem tem coragem para encarar um trabalho como o seu, e admiro ainda mais você, pela sensibilidade com que lida com tudo isso. E pensar que você ainda consegue sorrir, rir e ser uma pessoa leve.
Parabéns, Lulu.
Um grande beijo.
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