sábado, maio 07, 2005

Sobre um texto de Santo Agostinho

Estava lendo a Folha de São Paulo , Revista da Folha, coluna Fale com Ela. Calhou de ser um texto sobre as perdas, a morte dos seres amados; me deu vontade de ler os textos de santo Agostinho... Embora as vivências do dia-a-dia sejam tão elucidativas quanto os textos, talvez me preparassem ,as leituras ,para tais vivências. Nada tão profundo quanto viver a situação e senti-la, na carne, na alma, nos olhos do interlocutor, do companheiro de jornada.Mas a leitura sempre foi um preview, mesmo provocando a sensação de dèja-vu. Quem, apaixonado por este universo paralelo e mágico, presente e deslumbrante, não sentiu? Ou não leu, ou não percebeu.
Vamos ao texto da FSP(grifos meus):
"O tempo diminui a dor", de santo Agostinho.Há nele uma das considerações mais importantes sobre o luto. Santo Agostinho, que está muito afetado com a morte de um amigo, se pergunta por que sofre tanto com a perda e dá a seguinte resposta: "Por ter derramado a minha alma na areia, amando um mortal como se ele não fosse morrer". Faz uma autocrítica pelo fato de ter sido desmesurado e nada realista.A frase do santo me remete a uma outra frase complementar, escrita por Sêneca, filósofo romano: "A memória dos meus amigos mortos é atraente. Porque eu os possuí como quem tem de perdê-los e eu os perdi como quem os possui ainda". É possível que santo Agostinho tenha lido Sêneca, cujo texto indica que perder não é sinônimo de não ter e ensina a amar os mortais enquanto mortais, a aceitar a realidade.Quem não consegue fazer o luto do morto, na verdade, não está dando uma demonstração de amor pela pessoa que morreu, mas de apego à fantasia de que ela nunca morreria. Noutras palavras, não suporta se desapegar do que imaginava e viver sem a ilusão da imortalidade.Abrir mão dessa ilusão é tão difícil que o filósofo Derrida, um dos grandes pensadores do século 20, declarou em sua última entrevista à imprensa que não era possível fazer o luto da vida. À diferença de Sêneca, que consolou os amigos antes de morrer, Derrida se mostrou claramente inconsolável. Talvez por isso tenha afirmado que "a vida é sobrevida -tanto no sentido de continuar a viver quanto no de viver depois da morte".

3 Comments:

At 6:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Puxa vida... Ontem, em Ponte Nova (interior de Minas), fomos eu, o Guto e a mãe dele ao cemitério em que estão enterrados os avós dele, um tio, enfim, vários familiares.

Eu não quis entrar porque não estava bem e ia acabar ficando pior ao me lembrar de pessoas que conheci nesses seis anos em que estou com o Guto e que me fariam sentir saudade. Além disso, ia acabar pensando na minha mãe, pois quando vou a cemitérios onde estão pessoas conhecidas eu penso nela.

Bom, venho até aqui e te vejo falando sobre o assunto. Foi muito legal. Deu uma aliviada, sei lá.

Beijão.

 
At 11:50 AM, Blogger Beau Geste said...

Mail-me, Lúcia?
Tenho algo em off pra lhe dizer.
Nada acerca de morbidez. Mas casualmente, entre milhares de assuntos, já havia me passado essa leitura sobre Sto Agostinho e agora relí nos seu post.
Gosto de pessoas que me dizem algo, então suas motivações são semelhantes as minhas, as que considero (dentro do meu contexto) "normais".

 
At 11:53 AM, Blogger Beau Geste said...

ah...
o principal:)
beaugeste@estadao.com.br

 

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